Guilherme Karan vive em completo isolamento.Pai informa que ele esta vegetando por causa da doença
Há alguns meses, Guilherme Karan vive em completo isolamento. Desde sua participação na novela “América”, em 2005, o ator de 54 anos não pôde dar continuidade em sua carreira, tampouco sair de casa, em razão de uma doença degenerativa raríssima chamada Machado-Joseph.
A síndrome neurológica hereditária costuma dar seus primeiros sinais a partir dos 35 anos e compromete funções cerebrais: a mãe e um dos irmãos do ator morreram do mesmo mal. “Ele está numa cadeira de rodas, muito deprimido, não quer falar com ninguém, e alterna momentos de lucidez”, disse o pai de Guilherme, Alfredo Karan, por meio de seu secretário particular.
Sem cura, a anomalia compromete também a deglutição, mas não prejudica a inteligência ou memória. “Ele não assiste televisão para não se lembrar do passado”, acrescenta Alfredo, que lhe presta total assistência como o acompanhamento diário de enfermeiros e sessões de fisioterapia – o único momento em que o ator entra em contato com o mundo externo.
Em entrevista, o ator Eri Johnsson, que trabalhou com Karan na novela “O Clone” (2001), disse que nunca mais teve notícias de Guilherme. “Ele se afastou completamente e pelo que eu soube, prefere não receber visitas ou ver as pessoas.”
A doença
Os portadores da síndrome Machado-Joseph já nascem com a doença, mas os primeiros sintomas demoram, em média, 35 anos para aparecer. Foi o que ocorreu com o ator Guilherme Karan. Por este motivo, avaliam os especialistas, a doença passou indetectável nos anos em que Karan interpretou variados papéis – quase todos cômicos – em séries como TV Pirata e novelas da Globo como América, O Clone e Hilda Furacão.
Segundo o neurologista do Hospital 9 de Julho, Antonio Cezar Ribeiro Galvão, após os primeiros sinais se manifestarem, a síndrome compromete lentamente todas as funções cerebrais. Entretanto, a parte cognitiva, responsável pela inteligência e pela memória, é preservada.
“Diferentemente do Alzheimer, a síndrome não acarreta demência”, explica o médico. “Mas quase todas as outras funções cerebrais são afetadas. O cerebelo, parte responsável pelo equilíbrio, é o primeiro a ficar alterado”, acrescenta. Quedas, tonturas e dor de cabeça intensa são indícios da manifestação da doença, que é genética, ainda não tem cura ou tratamento corretivo.
Os movimentos dos braços e pernas também ficam comprometidos (por isso uma parte significativa dos portadores acaba na cadeira de rodas). Espasmos, músculos enrijecidos e dificuldades na fala são as outras sequelas da síndrome.
Seis em cada dez portadores, segundo uma pesquisa publicada em 2010 no Arquivo Brasileiro de Gastroenterologia, perdem a capacidade de engolir líquidos e alimentos sólidos. Engasgos, tosses e machucados na boca fazem com que os pacientes aspirem muita secreção e, por este motivo, as pneumonias são frequentes e a principal causa de morte em quem tem Machado-Joseph.
Com informações da repórter Fernanda Aranda, do IG